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A carteira
Machado de Assis.
...De repente,
Honório olhou para o chão e viu uma carteira. Abaixar-se, apanhá-la e guardá-la
foi obra de alguns instantes. Ninguém o viu, salvo um homem que estava à porta
de uma loja, e que, sem o conhecer, lhe disse rindo:
- Olhe, se não dá
por ela; perdia-a de uma vez.
- É verdade,
concordou Honório envergonhado.
Para avaliar a
oportunidade desta carteira, é preciso saber que Honório tem de pagar amanhã
uma dívida, quatrocentos e tantos mil-réis, e a carteira trazia o bojo
recheado. A dívida não parece grande para um homem da posição de Honório, que
advoga; mas todas as quantias são grandes ou pequenas, segundo as
circunstâncias, e as dele não podiam ser piores. Gastos de família excessivos,
a princípio por servir a parentes, e depois por agradar à mulher, que vivia
aborrecida da solidão; baile daqui, jantar dali, chapéus, leques, tanta cousa
mais, que não havia remédio senão ir descontando o futuro. Endividou-se.
Começou pelas contas de lojas e armazéns; passou aos empréstimos, duzentos a
um, trezentos a outro, quinhentos a outro, e tudo a crescer, e os bailes a
darem-se, e os jantares a comerem-se, um turbilhão perpétuo, uma voragem.
- Tu agora vais
bem, não? dizia-lhe ultimamente o Gustavo C..., advogado e familiar da casa.
- Agora vou,
mentiu o Honório.
A verdade é que
ia mal. Poucas causas, de pequena monta, e constituintes remissos; por desgraça
perdera ultimamente um processo, em que fundara grandes esperanças. Não só
recebeu pouco, mas até parece que ele lhe tirou alguma cousa à reputação
jurídica; em todo caso, andavam mofinas nos jornais.
D. Amélia não
sabia nada; ele não contava nada à mulher, bons ou maus negócios. Não contava
nada a ninguém. Fingia-se tão alegre como se nadasse em um mar de
prosperidades. Quando o Gustavo, que ia todas as noites à casa dele, dizia uma
ou duas pilhérias, ele respondia com três e quatro; e depois ia ouvir os
trechos de música alemã, que D. Amélia tocava muito bem ao piano, e que o
Gustavo escutava com indizível prazer, ou jogavam cartas, ou simplesmente
falavam de política.
Um dia, a mulher
foi achá-lo dando muitos beijos à filha, criança de quatro anos, e viu-lhe os
olhos molhados; ficou espantada, e perguntou-lhe o que era.
- Nada, nada.
Compreende-se que
era o medo do futuro e o horror da miséria. Mas as esperanças voltavam com
facilidade. A ideia de que os dias melhores tinham de vir dava-lhe conforto
para a luta. Estava com, trinta e quatro anos; era o princípio da carreira:
todos os princípios são difíceis. E toca a trabalhar, a esperar, a gastar,
pedir fiado ou: emprestado, para pagar mal, e a más horas.
A dívida urgente
de hoje são uns malditos quatrocentos e tantos mil-réis de carros. Nunca
demorou tanto a conta, nem ela cresceu tanto, como agora; e, a rigor, o credor
não lhe punha a faca aos peitos; mas disse-lhe hoje uma palavra azeda, com um
gesto mau, e Honório quer pagar-lhe hoje mesmo. Eram cinco horas da tarde.
Tinha-se lembrado de ir a um agiota, mas voltou sem ousar pedir nada. Ao enfiar
pela Rua. da Assembléia é que viu a carteira no chão, apanhou-a, meteu no
bolso, e foi andando.
Durante os
primeiros minutos, Honório não pensou nada; foi andando, andando, andando, até
o Largo da Carioca. No Largo parou alguns instantes, - enfiou depois pela Rua
da Carioca, mas voltou logo, e entrou na Rua Uruguaiana. Sem saber como,
achou-se daí a pouco no Largo de S. Francisco de Paula; e ainda, sem saber
como, entrou em um Café. Pediu alguma cousa e encostou-se à parede, olhando
para fora. Tinha medo de abrir a carteira; podia não achar nada, apenas papéis
e sem valor para ele. Ao mesmo tempo, e esta era a causa principal das
reflexões, a consciência perguntava-lhe se podia utilizar-se do dinheiro que
achasse. Não lhe perguntava com o ar de quem não sabe, mas antes com uma
expressão irônica e de censura. Podia lançar mão do dinheiro, e ir pagar com
ele a dívida? Eis o ponto. A consciência acabou por lhe dizer que não podia,
que devia levar a carteira à polícia, ou anunciá-la; mas tão depressa acabava
de lhe dizer isto, vinham os apuros da ocasião, e puxavam por ele, e
convidavam-no a ir pagar a cocheira. Chegavam mesmo a dizer-lhe que, se fosse
ele que a tivesse perdido, ninguém iria entregar-lha; insinuação que lhe deu
ânimo.
Tudo isso antes
de abrir a carteira. Tirou-a do bolso, finalmente, mas com medo, quase às escondidas;
abriu-a, e ficou trêmulo. Tinha dinheiro, muito dinheiro; não contou, mas viu
duas notas de duzentos mil-réis, algumas de cinqüenta e vinte; calculou uns
setecentos mil-réis ou mais; quando menos, seiscentos. Era a dívida paga; eram
menos algumas despesas urgentes. Honório teve tentações de fechar os olhos,
correr à cocheira, pagar, e, depois de paga a dívida, adeus; reconciliar-se-ia
consigo. Fechou a carteira, e com medo de a perder, tornou a guardá-la.
Mas daí a pouco
tirou-a outra vez, e abriu-a, com vontade de contar o dinheiro. Contar para
quê? era dele? Afinal venceu-se e contou: eram setecentos e trinta mil-réis.
Honório teve um calafrio. Ninguém viu, ninguém soube; podia ser um lance da
fortuna, a sua boa sorte, um anjo... Honório teve pena de não crer nos anjos...
Mas por que não havia de crer neles? E voltava ao dinheiro, olhava, passava-o
pelas mãos; depois, resolvia o contrário, não usar do achado, restituí-lo.
Restituí-lo a quem? Tratou de ver se havia na carteira algum sinal.
"Se houver
um nome, uma indicação qualquer, não posso utilizar-me do dinheiro,"
pensou ele.
Esquadrinhou os
bolsos da carteira. Achou cartas, que não abriu, bilhetinhos dobrados, que não
leu, e por fim um cartão de visita; leu o nome; era do Gustavo. Mas então, a carteira?...
Examinou-a por fora, e pareceu-lhe efetivamente do amigo. Voltou ao interior;
achou mais dois cartões, mais três, mais cinco. Não havia duvidar; era dele.
A descoberta
entristeceu-o. Não podia ficar com o dinheiro, sem praticar um ato ilícito, e,
naquele caso, doloroso ao seu coração porque era em dano de um amigo. Todo o
castelo levantado esboroou-se como se fosse de cartas. Bebeu a última gota de
café, sem reparar que estava frio. Saiu, e só então reparou que era quase
noite. Caminhou para casa. Parece que a necessidade ainda lhe deu uns dous
empurrões, mas ele resistiu.
"Paciência,
disse ele consigo; verei amanhã o que posso fazer."
Chegando a casa,
já ali achou o Gustavo, um pouco preocupado, e a própria D. Amélia o parecia
também. Entrou rindo, e perguntou ao amigo se lhe faltava alguma cousa.
- Nada.
- Nada?
- Por quê?
- Mete a mão no
bolso; não te falta nada?
- Falta-me a
carteira, disse o Gustavo sem meter a mão no bolso. Sabes se alguém a achou?
- Achei-a eu,
disse Honório entregando-lha.
Gustavo pegou
dela precipitadamente, e olhou desconfiado para o amigo. Esse olhar foi para
Honório como um golpe de estilete; depois de tanta luta com a necessidade, era
um triste prêmio. Sorriu amargamente; e, como o outro lhe perguntasse onde a
achara, deu-lhe as explicações precisas.
- Mas
conheceste-a?
- Não; achei os
teus bilhetes de visita.
Honório deu duas
voltas, e foi mudar de toilette para o jantar. Então Gustavo sacou novamente a
carteira, abriu-a, foi a um dos bolsos, tirou um dos bilhetinhos, que o outro
não quis abrir nem ler, e estendeu-o a D. Amélia, que, ansiosa e trêmula,
rasgou-o em trinta mil pedaços: era um bilhetinho de amor.
O que você faria leitor se estivesse no lugar do Honório?
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BRINCADEIRA
Luiz Fernando Veríssimo
Começou como uma brincadeira. Telefonou para um conhecido e disse:
– Eu sei de tudo.
Depois de um silêncio, o outro disse:
– Como é que você soube?
– Não interessa. Sei de tudo.
– Me faz um favor. Não espalha.
– Vou pensar.
– Por amor de Deus.
– Está bem. Mas olhe lá, hein?
Descobriu que tinha poder sobre as pessoas.
– Sei de tudo.
– Co- como?
– Sei de tudo.
– Tudo o quê?
– Você sabe.
– Mas é impossível. Como é que você descobriu?
A reação das pessoas variava. Algumas perguntavam em seguida:
– Alguém mais sabe?
Outras se tornavam agressivas:
– Está bem, você sabe. E daí?
– Daí nada. Só queria que você soubesse que eu sei.
– Se você contar para alguém, eu…
– Depende de você.
– De mim, como?
– Se você andar na linha, eu não conto.
– Certo.
Uma vez, parecia ter encontrado um inocente.
– Eu sei de tudo.
– Tudo o quê?
– Você sabe.
– Não sei. O que é que você sabe?
– Não se faz de inocente.
– Mas eu realmente não sei.
– Vem com essa.
– Você não sabe de nada.
– Ah, quer dizer que existe alguma coisa pra saber, mas eu é que não sei o que é?
– Não existe nada.
– Olha que eu vou espalhar…
– Pode espalhar que é mentira.
– Como é que você sabe o que eu vou espalhar?
– Qualquer coisa que você espalhar será mentira.
– Está bem. Vou espalhar.
Mas dali a pouco veio um telefonema.
– Escute. Estive pensando melhor. Não espalha nada sobre nada daquilo.
– Aquilo o quê?
– Você sabe.
Passou a ser temido e respeitado. Volta e meia alguém se aproximava dele e sussurrava:
– Você contou para alguém?
– Ainda não.
– Puxa. Obrigado.
Com o tempo, ganhou uma reputação. Era de confiança. Um dia, foi procurado por um amigo com uma oferta de emprego. O salário era enorme.
– Por que eu? – quis saber.
– A posição é de muita responsabilidade – disse o amigo. – Recomendei você.
– Por quê?
– Pela sua descrição.
Subiu na vida. Dele se dizia que sabia tudo sobre todos, mas nunca abria a boca para falar de ninguém. Além de bem-informado, um gentleman. Até que recebeu um telefonema. Uma voz misteriosa que disse:
– Sei de tudo.
– Co- como?
– Sei de tudo.
– Tudo o quê?
– Você sabe.
Resolveu desaparecer. Mudou-se de cidade. Os amigos estranharam o seu desaparecimento repentino. Investigaram. O que ele estaria tramando? Finalmente foi descoberto numa praia remota. Os vizinhos contam que uma noite vieram muitos carros e cercaram a casa. Várias pessoas entraram na casa. Ouviram-se gritos. Os vizinhos contam que a voz que mais se ouvia era a dele, gritando:
– Era brincadeira! Era brincadeira!
Foi descoberto de manhã, assassinado. O crime nunca foi desvendado. Mas as pessoas que o conheciam não têm dúvidas sobre o motivo.
Sabia demais.
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Contextualização Leia com atenção esta situação (hipotética e anedótica) de sala de aula:
Cf. THOMAL, Alberto. Pensando Logicamente. Investigação sobre Lógica. 10ª edição ampliada e renovada. Florianópolis/SC: Sophos, 2006
Um dia, na sala de aula, o professor explicava a teoria da evolução aos alunos. Ele perguntou a
um dos estudantes:
– Tomás, vês a árvore lá fora?
– Sim – respondeu o menino. O professor voltou a perguntar:
– Vês a grama? O menino respondeu prontamente:
– Sim. Então o professor mandou Tomás sair da sala e lhe disse para olhar para cima e ver se
ele enxergava o céu.
– Viste Deus? – Perguntou o professor. O menino respondeu que não.
O professor, olhando para os demais alunos, disse:
– É disso que eu estou falando! Tomás não pode ver Deus, porque Deus não está ali! Podemos
concluir então que Deus não existe.
Nesse momento, Pedrinho levantou-se e pediu permissão ao professor para fazer mais
algumas perguntas a Tomás.
– Tomás, vês a grama lá fora?
– Sim.
– Vês as árvores?
– Sim.
– Vês o céu?
– Sim.
– Vês o professor?
– Sim.
– Vês o cérebro dele?
– Não – disse Tomás.
Pedrinho, então, dirigindo-se a seus companheiros, disse:
– Colegas, de acordo com o que aprendemos hoje, concluímos que o professor não tem
cérebro.
Estudo da Lógica Bem, você viu como o professor usou de um raciocínio pretensamente lógico e coerente para concluir algo que parecia ser autorizado pelas constatações precedentes. Pedrinho usou da mesma técnica para mostrar quão equivocada era a conclusão do professor. Concluir uma informação nova a partir de constatações precedentes é um processo lógico chamado de inferência. Usamos esse recurso a todo o momento. Só que nem sempre percebemos que certas conclusões não podem necessariamente ser feitas com base apenas nas constatações anteriores. Esse é o caso nessa situação. O fato de não se poder ver uma coisa não decorre necessariamente que ela não existe. É o que Pedrinho tentou mostrar com muita sabedoria e uma boa dose de ironia. Mas será que é possível concluir que Deus existe, uma vez que não se pode provar que ele não existe? Pense um pouco. Do mesmo modo que não se pode provar formalmente que Deus não existe porque não o vemos, também não se pode provar que ele existe, se não o vemos. Ou não? Isso é lógica, pensar se o pensamento sobre alguma coisa segue o caminho correto para pensá-lo. A lógica não é ciência no sentido de provar coisas na realidade, mas apenas instrumento de análise do alcance do discurso argumentativo, prescrevendo os seus limites para evitar conclusões inadequadas que não são autorizadas pela simples observação das regras do raciocínio. Somos sempre lógicos ou ilógicos quando usamos nossa capacidade de argumentar. O estudo da lógica permite apurar a validade dos argumentos que empregamos para defender uma ideia, pois nem sempre um raciocínio bonito e bem construído segue as regras do pensar corretamente. Você vai perceber que o estudo da lógica o(a) ajudará a desconstruir os enganos e equívocos frequentes dos discursos no mundo da publicidade, da política e do cotidiano, em que os argumentos são colocados sem maiores rigores do ponto de vista da análise lógica. 9 UNIDADE Introdução ao Estudo da Lógica Introdução O Uso da Palavra “Lógica” no Cotidiano “Não pode ser. Essa história não tem lógica”. Que significado tem a palavra “lógica” em frases como essa? A resposta é simples: essa história não tem coerência; não tem nexo; há contradições e o todo não “cola”, isto é, não convence. O uso positivo da mesma palavra é muito comum na linguagem cotidiana: “É lógico que vamos ganhar”; “Lógico que vou trabalhar”; “Lógico seria se ele não aceitasse aquela proposta”. O termo “lógico” nas três frases pode ser substituído sem perda do sentido pelas palavras “claro” na primeira e segunda e “correto” na terceira. O uso cotidiano da palavra “lógica” mostra que ela tem um parentesco com outras, como “certo”, “correto”, “coerente” e “claro”. O contexto é sempre coerência entre palavra e realidade. É também coesão do discurso, ou seja, sintonia e harmonia do conjunto da linguagem que se emprega na comunicação. Linguagem como expressão coerente do pensamento e discurso como representação correta e convincente do conteúdo que se quer transmitir estão no horizonte da lógica no entendimento do senso comum. Sentido Etimológico – Original da Palavra “Lógica” O senso comum no uso que faz da palavra lógica mostra uma conexão com o seu significado original derivado do termo grego logos. Logos é conceito fundamental da filosofia grega antiga. Representa o que os filósofos estoicos, por exemplo, entendiam ser a razão universal presente em todas as coisas. De modo mais geral e objetivo, logos significa palavra ou discurso. Lógica, nesse sentido, é tudo o que diz respeito ao discurso em sua capacidade de dizer algo com razão, razoabilidade e inteligibilidade. É o discurso capaz de comunicar algo que pode ser compreendido pela inteligência. Logos é razão, e lógica, por sua vez, é todo discurso capaz de expressar algo que seja compatível com as leis da razão. A lógica como disciplina da filosofia é, pois, o estudo das leis que regem o pensamento racional. Pode-se definir a lógica como disciplina filosófica, científica ou ainda como arte. Foram os filósofos os primeiros autores a se dedicarem ao estudo da lógica. Mais tarde, com o surgimento da ciência moderna, nasceu uma lógica científica, como instrumento metodológico da pesquisa científica, ligada principalmente às formas da matemática e da expressão simbólica. Algumas célebres definições de lógica seguem abaixo: “Lógica é ciência das formas do pensamento” (L. LIARD). Lógica é a linguagem que estrutura as linguagens descritivas” (L. HEGEMBERG). “Lógica é ciência da argumentação, enquanto esta é diretiva da operação de raciocinar (TELLES JÚNIOR, Godoffredo). “Lógica é a arte que dirige 10 11 o próprio ato da razão, isto é, que nos permite chegar com ordem, facilmente e sem erro, ao próprio ato da razão” (Jacques MARITAIN). (BASTOS & CLEBER, 1991, p. 13). De um modo simples, direto e de largo alcance, Irving Marmer Copi propôs uma definição que satisfaz as necessidades desse estudo introdutório: “O estudo da lógica é o estudo dos métodos e princípios usados para distinguir o raciocínio correto do incorreto” (COPI, 1978, p. 19). De posse dessa definição, já podemos identificar qual é o objeto de estudo da lógica.
Após a leitura dos dois textos dê sua opinião e seu entendimento sobre o uso da lógico na Filosofia?
Cora
Coralina
Não sei…
se a vida é curta
ou longa demais para nós.
Mas sei que nada do que vivemos
tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que sacia,
amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo:
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
não seja nem curta,
nem longa demais,
mas que seja intensa,
verdadeira e pura…
enquanto durar.
Cf. THOMAL, Alberto. Pensando Logicamente. Investigação sobre Lógica. 10ª edição ampliada e renovada. Florianópolis/SC: Sophos, 2006
Um dia, na sala de aula, o professor explicava a teoria da evolução aos alunos. Ele perguntou a
um dos estudantes:
– Tomás, vês a árvore lá fora?
– Sim – respondeu o menino. O professor voltou a perguntar:
– Vês a grama? O menino respondeu prontamente:
– Sim. Então o professor mandou Tomás sair da sala e lhe disse para olhar para cima e ver se
ele enxergava o céu.
– Viste Deus? – Perguntou o professor. O menino respondeu que não.
O professor, olhando para os demais alunos, disse:
– É disso que eu estou falando! Tomás não pode ver Deus, porque Deus não está ali! Podemos
concluir então que Deus não existe.
Nesse momento, Pedrinho levantou-se e pediu permissão ao professor para fazer mais
algumas perguntas a Tomás.
– Tomás, vês a grama lá fora?
– Sim.
– Vês as árvores?
– Sim.
– Vês o céu?
– Sim.
– Vês o professor?
– Sim.
– Vês o cérebro dele?
– Não – disse Tomás.
Pedrinho, então, dirigindo-se a seus companheiros, disse:
– Colegas, de acordo com o que aprendemos hoje, concluímos que o professor não tem
cérebro.
Estudo da Lógica
Estudo da Lógica Bem, você viu como o professor usou de um raciocínio pretensamente lógico e coerente para concluir algo que parecia ser autorizado pelas constatações precedentes. Pedrinho usou da mesma técnica para mostrar quão equivocada era a conclusão do professor. Concluir uma informação nova a partir de constatações precedentes é um processo lógico chamado de inferência. Usamos esse recurso a todo o momento. Só que nem sempre percebemos que certas conclusões não podem necessariamente ser feitas com base apenas nas constatações anteriores. Esse é o caso nessa situação. O fato de não se poder ver uma coisa não decorre necessariamente que ela não existe. É o que Pedrinho tentou mostrar com muita sabedoria e uma boa dose de ironia. Mas será que é possível concluir que Deus existe, uma vez que não se pode provar que ele não existe? Pense um pouco. Do mesmo modo que não se pode provar formalmente que Deus não existe porque não o vemos, também não se pode provar que ele existe, se não o vemos. Ou não? Isso é lógica, pensar se o pensamento sobre alguma coisa segue o caminho correto para pensá-lo. A lógica não é ciência no sentido de provar coisas na realidade, mas apenas instrumento de análise do alcance do discurso argumentativo, prescrevendo os seus limites para evitar conclusões inadequadas que não são autorizadas pela simples observação das regras do raciocínio. Somos sempre lógicos ou ilógicos quando usamos nossa capacidade de argumentar. O estudo da lógica permite apurar a validade dos argumentos que empregamos para defender uma ideia, pois nem sempre um raciocínio bonito e bem construído segue as regras do pensar corretamente. Você vai perceber que o estudo da lógica o(a) ajudará a desconstruir os enganos e equívocos frequentes dos discursos no mundo da publicidade, da política e do cotidiano, em que os argumentos são colocados sem maiores rigores do ponto de vista da análise lógica. 9 UNIDADE Introdução ao Estudo da Lógica Introdução O Uso da Palavra “Lógica” no Cotidiano “Não pode ser. Essa história não tem lógica”. Que significado tem a palavra “lógica” em frases como essa? A resposta é simples: essa história não tem coerência; não tem nexo; há contradições e o todo não “cola”, isto é, não convence. O uso positivo da mesma palavra é muito comum na linguagem cotidiana: “É lógico que vamos ganhar”; “Lógico que vou trabalhar”; “Lógico seria se ele não aceitasse aquela proposta”. O termo “lógico” nas três frases pode ser substituído sem perda do sentido pelas palavras “claro” na primeira e segunda e “correto” na terceira. O uso cotidiano da palavra “lógica” mostra que ela tem um parentesco com outras, como “certo”, “correto”, “coerente” e “claro”. O contexto é sempre coerência entre palavra e realidade. É também coesão do discurso, ou seja, sintonia e harmonia do conjunto da linguagem que se emprega na comunicação. Linguagem como expressão coerente do pensamento e discurso como representação correta e convincente do conteúdo que se quer transmitir estão no horizonte da lógica no entendimento do senso comum. Sentido Etimológico – Original da Palavra “Lógica” O senso comum no uso que faz da palavra lógica mostra uma conexão com o seu significado original derivado do termo grego logos. Logos é conceito fundamental da filosofia grega antiga. Representa o que os filósofos estoicos, por exemplo, entendiam ser a razão universal presente em todas as coisas. De modo mais geral e objetivo, logos significa palavra ou discurso. Lógica, nesse sentido, é tudo o que diz respeito ao discurso em sua capacidade de dizer algo com razão, razoabilidade e inteligibilidade. É o discurso capaz de comunicar algo que pode ser compreendido pela inteligência. Logos é razão, e lógica, por sua vez, é todo discurso capaz de expressar algo que seja compatível com as leis da razão. A lógica como disciplina da filosofia é, pois, o estudo das leis que regem o pensamento racional. Pode-se definir a lógica como disciplina filosófica, científica ou ainda como arte. Foram os filósofos os primeiros autores a se dedicarem ao estudo da lógica. Mais tarde, com o surgimento da ciência moderna, nasceu uma lógica científica, como instrumento metodológico da pesquisa científica, ligada principalmente às formas da matemática e da expressão simbólica. Algumas célebres definições de lógica seguem abaixo: “Lógica é ciência das formas do pensamento” (L. LIARD). Lógica é a linguagem que estrutura as linguagens descritivas” (L. HEGEMBERG). “Lógica é ciência da argumentação, enquanto esta é diretiva da operação de raciocinar (TELLES JÚNIOR, Godoffredo). “Lógica é a arte que dirige 10 11 o próprio ato da razão, isto é, que nos permite chegar com ordem, facilmente e sem erro, ao próprio ato da razão” (Jacques MARITAIN). (BASTOS & CLEBER, 1991, p. 13). De um modo simples, direto e de largo alcance, Irving Marmer Copi propôs uma definição que satisfaz as necessidades desse estudo introdutório: “O estudo da lógica é o estudo dos métodos e princípios usados para distinguir o raciocínio correto do incorreto” (COPI, 1978, p. 19). De posse dessa definição, já podemos identificar qual é o objeto de estudo da lógica.
Após a leitura dos dois textos dê sua opinião e seu entendimento sobre o uso da lógico na Filosofia?
Não sei…
se a vida é curta
ou longa demais para nós.
Mas sei que nada do que vivemos
tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que sacia,
amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo:
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
não seja nem curta,
nem longa demais,
mas que seja intensa,
verdadeira e pura…
enquanto durar.
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Gosteii
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